Segundo uma crença popular, todo homem nascido no Japão deve
escalar o Monte Fuji, cartão postal daquele país, pelo menos uma vez em
sua vida. Dessa forma, acreditam, o indivíduo ganha uma poderosa benção
espiritual e atrai sorte. Talvez isso tenha levado Ichijirou Araya a decidir escalar os seus 3.776 metros de
altura, considerada a montanha mais alta do Japão
e a 35ª do mundo. Essa empreitada se torna ainda mais desafiadora,
considerando as baixas temperaturas do local. No verão, a média no topo varia de 18 a 8º C, mas com o vento
forte e constante, a sensação térmica é de alguns graus negativos.
Mesmo diante de todas as dificuldades, Ichijirou
não titubeou e, para a surpresa de todos, levou adiante seu intuito.
No dia 5 de agosto de 1994 sob um sol morno e preguiçoso, lá foi ele fazer sua
escalada.
Considerando que mais de 200 mil pessoas fazem
isso todos os anos, a decisão de Ichijirou não seria propriamente uma proeza
caso ele não estivesse na ocasião com 100
anos de idade. Isso mesmo que você leu: Ichijirou escalou o monte Fuji aos
100 anos de idade.
Maude
Tull, uma simpática americana, prestou exame de direção, foi
aprovada e, feliz da vida, comemorou ter tirado sua primeira carteira de
motorista aos 91 anos. Viveu mais 13
anos. Com a mesma idade, Hulda Crooks,
uma canadense de sorriso doce e olhos miúdos, escalou o monte Whitney, o mais
alto pico no território continental norte-americano. Arthur Rubinstein, pianista, escreveu sua biografia aos 91 anos, se definindo como o “homem mais feliz do mundo”. No ano de
2000 o indiano Fauja Singh perdeu
sua mulher e filho e se mudou para a Inglaterra. Estava com 89 anos quando decidiu começar a
correr. Completou oito maratonas. A última foi aos 100 anos de idade no Canadá, perfazendo os 42km em 8 horas, 25
minutos e 16 segundos. Já o grego Dimitrion
Yordanidis completou mais uma maratona em Atenas aos 98 anos. Seu tempo foi de 7 horas e 33 minutos.
O maestro Leopold Stokowski assinou um contrato
de seis anos, aos 94 anos de idade.
Aos 102 anos de idade, em março de
1971, Alice Pollock de Haslemere,
Inglaterra, publicou seu primeiro livro, Portrait
of My Victorian Youth. Pablo Picasso,
que dispensa apresentações, morreu no ano de 1973 aos 91 anos de idade. Na noite anterior esteve com amigos até tarde. Depois
que eles foram embora foi para o seu ateliê e pintou até três horas da manhã.
Bem mais jovem, na faixa dos 80, Benjamin Franklin, presenteou o mundo
com mais uma de suas muitas invenções: os óculos bifocais. Quem chega aos 65
anos de idade deve se aposentar, certo? Não para o coronel
americano Harland Sandres que,
falido, viajou por todo o país à cata de interessados em comercializar sua
receita especial de frangos fritos. Ali começava seu império que viria a se
chamar KFC (Kentucky Fried Chicken).
O que todas essas pessoas têm em comum além de uma idade
considerada avançada? O desejo de continuar vivendo plenamente. De produzir,
criar, se reinventar, de ir à luta e não deixarem que a idade fosse um fator
impositivo de viver a vida como deve ser vivida. De aproveitar ao máximo o
presente. Não se aposentaram de si mesmas. Não sofreram de um mal que tende a
dominar pessoas de todas as idades: a desnutrição
emocional que faz minguar nossa vontade de viver plenamente. Que nos faz
desistir antes mesmo de tentarmos.
Não precisamos escalar um monte ou correr uma maratona,
mas podemos e devemos viver com mais leveza, com mais vida! Todos nós perdemos
a juventude, mas não necessariamente a jovialidade. Para isso é essencial
gostarmos de nós mesmos! Respeitar nossas limitações decorrentes da idade, mas
não deixarmos que elas nos imobilizem. Focarmos mais nas nossas liberdades que
nas nossas limitações. Cultivarmos diariamente o prazer de viver, criando
atividades que nos tragam motivos para levantarmos da cama todo dia. Criarmos
vínculos e laços com outras pessoas. Termos um propósito e nos sentirmos pertencentes
ao mundo que nos cerca. Criarmos possibilidades que nos tragam energia e
motivação para viver.
Nosso cérebro, ao contrário do que se pensava até muito
pouco tempo, tem capacidades ilimitadas até o fim dos nossos dias. E ele se
nutre da qualidade dos nossos pensamentos. Por isso uma visão positiva de si
mesmo, ou seja, uma autoestima e autoconfiança elevadas, são determinantes para
uma melhor qualidade de vida. É fácil entender isso, considerando que, em
média, passam cerca de 60 mil pensamentos por dia na nossa cabeça. E cada um
desses pensamentos faz com que o nosso cérebro produza uma série de substâncias
que afetam nosso organismo, mesmo que, conscientemente, não tenhamos noção de
um décimo desses pensamentos diários que nos visitam. Sentir-se mal consigo
mesmo, ser bombardeado por pensamentos destrutivos e negativos nos intoxica de
uma forma brutal.
Uma âncora tem cerca de 1% do peso do navio e, mesmo
assim, o prende. O impede de seguir adiante. Pensamentos negativos e nocivos
atuam como âncoras em nossas vidas. Não nos deixam seguir em frente.
Toda jornada começa com um primeiro passo e para vivermos
melhor e mais plenamente, o primeiro passo é o autoconhecimento. Conhecermos
nossa essência. Saber ao certo o que nos estimula, o que nos move, o que nos
freia, o que nos agrada e nos desmotiva. São as nossas emoções que nos inundam
todo o tempo que dão o tom das nossas vidas. Que nos fazem colocarmos um pijama
e ficarmos diante de uma TV ou sairmos em busca de um viver mais saudável e
prazeroso. Cuidar da qualidade das nossas emoções inclui cuidar dos nossos
relacionamentos, entender as emoções dos que nos rodeiam, desenvolver a
capacidade de empatia e escuta. Escutarmos não só com os ouvidos, mas
principalmente com o coração e os olhos. Todos somos seres únicos, mas não
somos ilhas. Não nascemos para vivermos isolados. Somos seres sociais.
Avanços tecnológicos e na medicina aumentaram a quantidade
de anos de vida. Aumentarmos a qualidade desses anos excedentes com o qual
fomos presenteados, depende de nós. Do desenvolvimento da nossa inteligência
emocional. A boa notícia é que essa inteligência tende a aumentar com a idade,
fruto da nossa experiência, das nossas vivências, mas nos cabe dar uma ajuda à
natureza. Nos últimos dez anos a ciência descobriu, e entendeu, mais sobre o
cérebro humano do que nos últimos dois mil anos anteriores. E foram essas
descobertas valiosas que nos deram o caminho das pedras para vivermos com maior
qualidade de vida. Recursos tecnológicos nos permitiram mapear e compreender
melhor as emoções e suas influências em nossas vidas. E uma das grandes lições
que aprendemos foi a de que emoções são contagiosas. Por isso nos cercarmos de
pessoas que nos façam mais felizes e positivas, tragam mais disposição, esperança
e felicidade. E, assim, o ciclo se fecha de uma forma saudável porque quando
estamos mais felizes contagiamos as pessoas à nossa volta. Já o contrário, ou
seja, os encontros tóxicos com pessoas que são verdadeiros vampiros emocionais,
que sugam nossa alegria e nossa energia, nos fazem um grande mal à saúde. Tenho
uma conhecida, por exemplo, que se telefono para ela e pergunto se está tudo
bem e ela responde que está, desligo o telefone porque é engano.
Estamos vivendo
um momento especialmente difícil, sendo bombardeados por notícias ruins e
precisamos, mais do que nunca, nos proteger disso. Não nos deixarmos
contaminar. Uma recente pesquisa desenvolvida na universidade de Stanford
concluiu que meia hora de negatividade pode danificar o nosso cérebro. Seja
quando reclamamos, escutamos reclamações, lemos ou ouvimos notícias ruins. Meia
hora!! Por isso precisamos abastecer nossos cérebros com pensamentos que nos
façam seguir adiante com disposição e confiança, sem âncoras emocionais. Que
nos façam viver mais plenamente, criar mais e manter nossa mente e corpo ativos.
Por isso criATIVE-SE! E faça com que
sua vida seja muito melhor!
Andréa Cordoniz
Setembro 2017