Tempos atrás escrevi um artigo para a
revista Exame mencionando o uso abusivo de palavras estrangeiras, sobretudo no
mundo organizacional. De lá para cá, nada mudou: continuo escrevendo summarys,
fazendo folow-ups, recebendo papers, dando e recebendo feedbacks,
fazendo approachs, seguindo o script do casual day, mantendo-me atenta
ao background,
mencionando diversos cases, participando de brainstorms,
fazendo briefings disso e daquilo, desenvolvendo business games
para instrutoria e trainnes, desenvolvendo minha expertise, partilhando ao
máximo todo o meu know-how, discutindo políticas de implacement, tendo
excelentes insights, prevendo e reformulando gaps indesejáveis, dando
treinamentos in company, preferencialmente através de uma política just-in-time,
falando em coaching, drawback, prospects, budget,
stakeholders,
team,
mentoring...
Mas
nem só de estrangeirismo vive o dialeto corporativo. Termos entram e saem de
moda e é preciso estarmos atentos para não sermos taxados de “cafonas
organizacionais”.
Quem
lembra, por exemplo, que “cliente”
já foi “freguês”? Ou que “investimento” de uma consultoria já foi
“preço”? Os atuais “colaboradores” também já responderam
pela alcunha de “empregados” ou “funcionários”. Antigamente fazíamos “gancho” com algo que era dito e hoje
fazemos “link”. Trabalhávamos em “empresas”, “fábricas”, “lojas” ou “escritórios”, enquanto hoje trabalhamos
em “organizações”, “corporações” e “empreendimentos”. O que era “difícil”
passou a ser “desafiador”. Se você
hoje é “gestor” saiba que até pouco
tempo atrás seria denominado de “gerente”
e mais tempo ainda atrás de “chefe”
(palavra que deve fazer pelo menos meia dúzia de leitores isolarem na madeira –
toc, toc, toc).
Grande
parte do vocabulário que surge é cunhado por gurus corporativos e propagado por
seus seguidores. As principais passarelas onde são apresentados os termos da
nova estação são os MBAs. Não há quem curse um MBA que não esteja totalmente
por dentro do mundo fashion corporativo. E lá vão eles “quebrando paradigmas”,
procurando manterem-se “alinhados”
com a política corporativa atual, “mantendo
o foco” em seus objetivos, esforçando-se para atuarem proativamente, desenvolvendo a capacidade de “resiliência” e coisas do gênero.
Um
parêntese: alguns termos me chamam a atenção e me fazem pensar e outros,
confesso, me soam profundamente bobos. Sim, bobos, tolos! Um deles, muito usado
nas melhores corporações do mundo é “serviço
voltado para resultados”. Pergunto, eu: não fosse ele voltado para
resultados, para que seria? Para “fazer
por fazer?”, “Fazer para ver no que vai dar?”.
Assim
como o estrangeirismo, o importante é evitarmos exageros que levam legiões de
profissionais a fazerem discursos quase iguais, ou seja, se utilizando de uma
linguagem pasteurizada e artificial, o que se acentua ainda mais com a
globalização. Encontramos empreendedores dos mais diversos países com discursos
de uma semelhança assombrosa. Conteúdos muito bem “preparados”, mas em geral
carentes de emoção. Pessoas que falam, mas não colocam vida em seus discursos. Uma
linguagem impregnada de botox. Um
vocabulário recheado de um modismo engessante e que poderia sair da boca de
qualquer profissional de qualquer parte do universo.
Outra
armadilha desse mundo fashion é a utilização de uma linguagem
cosmética, ou seja, feita para maquiar um conteúdo que das duas uma: ou é um
conteúdo pobre, sem consistência nem essência, tal e qual anúncios de Classificados
de segunda-feira, ou que precisa de retoques e camuflagens para disfarçar
imperfeições. Resumindo: para fazer o texto parecer melhor do que é. Seu autor
capricha na maquiagem para impressionar. Nos dois casos, porém, o problema é
quando lavamos o rosto e apresentamos o discurso de cara limpa. Se o seu
conteúdo não for bom, não se sustentar, ao retirarmos todos os estrangeirismos
e modismos, temos uma triste surpresa.
É preciso
cuidado também, pois a maciça utilização desse vocabulário corporativo, com suas
tendências e influências, cheira a jargão, coisa que toda e qualquer orientação
empresarial reprova.
Conteúdos
realmente bons (e principalmente) feitos numa linguagem simples, clara e
objetiva, continuam tendo valor! Valor esse gerado justamente por sua
objetividade e clareza.
Andréa Cordoniz
Você foi simplesmente, clara e objetiva!
ResponderExcluirBjs